Sendo diretor de uma escola de aviação

Design sem nome

Minha história não poderia ser diferente de muitos e hoje acordei e fiquei pensando sobre meu início na aviação em 1988, e muitas lembranças vieram.

Então, resolvi escrever.

Aviação sempre esteve presente em minha infância

Desde pequeno via os filhos de uns amigos de meus pais chegando em Porto Alegre, na Rua João Guimarães, na época voavam na Varig.

Eu me refiro aos meus 8 anos de idade, ano 1973.

Eles chegavam elegantes.

O filho mais velho, Ney, era o mais velho chefe de equipe, instrutor e chefe de comissários, na época um cargo de alto grau de complexidade e confiança na VARIG.

Ele era meu exemplo de profissionalismo e uma luz no meu futuro, porque Porto Alegre realmente é um lugar ótimo para se viver, mas não me via vivendo minha vida adulta lá.

Queria coisas novas para meu futuro, e olha que estamos falando de uma criança com 8 anos de idade.

Voltando ao Ney “meu ídolo”, depois de meu “PAI” lógico, sempre quando chegava de voo em Porto Alegre com aquele uniforme da VARIG e principalmente na minha rua, eu parava de estudar ou brincar para ir à casa deles ouvir as histórias de voo, que eram muito engraçadas e ao mesmo tempo me levavam a sonhar sobre o meu futuro.

Era muito bom ouvir tudo aquilo e me imaginar, no contexto, voando também, sabendo que a batalha seria árdua, mas dependeria exclusivamente de mim.

Mas meu sonho, meu objetivo e meu foco não se perderiam por que tinha 8 anos de idade, porque eu precisava me preparar, estudar, dar uma devolutiva aos meus pais nos meus estudos para mostrar que poderia chegar onde imaginava.

E os amigos continuavam indo à Porto Alegre.

Não era somente o Ney na VARIG, agora já eram o Ênio e o Volney, irmão mais novo.

Todos voando na VARIG.

Eu nesta época já estava com 13 anos de idade, e continuava aquela minha rotina de ouvir as histórias e agora já sabendo chegar no aeroporto Salgado Filho, para ficar observando os aviões da VARIG pousando e decolando, os tripulantes saindo do avião para beber café no aeroporto…

E eu ficava com tudo isto em minha lembrança, já que uma máquina fotográfica era coisa para pessoas com algum dinheiro.

Passei por todo este processo que me serviu de estímulo para seguir o meu caminho e minha trilha.

Aos 18 anos, acabei entrando para a faculdade para o curso de Economia.

Estudei, mas na verdade não era o que queria.

Ao longo deste tempo casei, tendo uma filha. Enfim, construindo minha estória ou seria história, rsrsrsrs, os anos passando e chegando finalmente ao ano de 1988, que ano!

Em fevereiro de 1988 a VARIG abre processo seletivo em Porto Alegre, porque a aviação era centralizada em São Paulo.

Passei pelo processo, primeiramente uma entrevista, onde me sai razoavelmente bem, afinal tratava-se de um jovem cheio de sonhos , ideais… que TENSÃO.

E a pergunta sempre era: e agora?

A resposta sempre a mesma, volte para casa e retorne em tal data para ver se seu nome estará no mural como APROVADO.

Aquilo era um martírio, tendo de sair do meu trabalho.

Naquela época eu falei ao meu chefe que estava em processo seletivo na VARIG.

Até então trabalhava na Coca Cola, uma bela empresa.

Minha diretoria na época tentou me demover do meu objetivo, mas para meu bem, dizendo que o meu futuro seria interessante na empresa.

Mas me manti firme em meu propósito, eu queria a VARIG, e eu chegaria lá.

Bom, voltando aos resultados, lá vai o Salmeron para o mural no bairro São Geraldo, base da VARIG em Porto Alegre, cheio de expectativas, medos, receios e não sei mais o que lá.

Eram tantos sentimentos, que juro que acho que se escrevesse hoje ocupariam alguns parágrafos.

Nesta primeira fase, ufa, que alívio… aprovado!

Ao mesmo tempo vendo pessoas ao meu lado, vendo “Reprovado“.

Não era uma situação muito agradável ver colegas de processo ficando pelo caminho, pois alguns laços de amizade já apareciam entre os candidatos, mas enfim, a vida é assim e ela continua.

Vamos lá Salmeron, mais entrevistas, mais “aguarde resposta no mural daqui UMA SEMANA”, isto mesmo UMA SEMANA.

Não era nada de telefone para saber, tinha de ir pessoalmente saber o resultado.

Lembra que mencionei que o processo começou em fevereiro?

Pois é, agora estamos em MAIO e na última fase de meu processo admissional.

Exame de saúde, tudo certo, que maravilha, que alívio.

Até chegar no OTORRINOLARINGOLOGISTA e, para minha surpresa, aparecer um CISTO NO SEIO MAXILAR ESQUERDO, que me impediria de entrar para o grupo que embarcaria em AGOSTO DE 1988 para a turma 06/1988.

Aí entra a consciência, o objetivo, a vontade de batalhar pelo o que se quer.

Eu era casado e com uma filha para sustentar, detalhe que quando passei no processo seletivo fui orientado a pedir demissão de meu emprego, e conversei com minha esposa.

Esta mulher é show, não é a toa que sou apaixonado e muito grato por tudo que me incentivou, me ajudou, me disse “não desista do teu objetivo“, se é isto que tu quer vai em frente, estamos juntos.

Ela assumiu os custos de tudo sozinha para que eu pudesse seguir em frente. SHOW!

Desejo que cada um que leia este artigo , tenha um casamento como o que tenho e a família maravilhosa que tenho.

Como sou uma pessoa de sorte!

Voltando ao meu CISTO DO SEIO MAXILAR ESQUERDO , lembra?

Tive de operá-lo.

Minha mulher me ajudou em tudo, também não seria diferente se fosse vice versa, mas continuando, operação, rosto inchado e Raio X para o médico da VARIG me liberar para ingressar na turma que embarcaria em agosto de 1988.

Estamos em MAIO, lembra?

Tive 2 meses para operar tirar 8 Raios X do rosto, e sempre ouvia a frase do médico que ecoa em meus ouvidos até hoje “Calma, não vamos colocar a carroça na frente dos bois.“, detesto este ditado!

Neste ínterim pagamentos de Raio X, exames de saúde do Hospital da Aeronáutica, sabe como paguei?

– Vendi meu barbeador elétrico e meu Rayban com lente de grafite que amava.

Eram os 2 objetos que mais amava ter, mas entre meu objetivo de vida e bens pessoais optei pelo meu “sonho”, por que uma coisa que aprendi que nesta vida tudo é na base do sacrifício.

Eu que o diga! Ufa!

Finalmente pedi uma junta médica na VARIG com o corpo médico para avaliação de meu caso, e consegui minha aprovação.

Eu juro, nem acreditei quando saiu o médico chefe da reunião, para me dar o veredito da junta.

Eu não sabia se chorava, se ria, é uma sensação que até hoje mexe comigo.

O médico me disse:

Parabéns Salmeron, você está liberado, poderá embarcar com sua turma para São Paulo para fazer seu curso com sua turma!

Isto aconteceu em JULHO DE 1988, e finalmente dia 06 DE AGOSTO DE 1988 embarcava o mais novo comissário de voo da VARIG para São Paulo para seu sonhado curso e “sonho”, voar!

No aeroporto foi difícil deixar minha esposa, filha, pai para trás, mas eu tinha certeza que valeria à pena e que não iria decepcioná-los, e tudo deu tão certo que minha admissão na VARIG foi 8/8/88.

Só poderia ser um sinal, rsrsrrsrs.

Comissário SALMERON JUNIOR, este era o meu nome de guerra e minha matrícula 68.682-7 , tenho tanto orgulho disto, que resolvi contar hoje um pouco da minha trajetória.

Depois de muitos voos como comissário auxiliar, comissário galley para voos para Buenos Aires, diária de $ 54.00 (dólares), consegui juntar este dinheiro de minhas diárias para comprar meu primeiro carro, FIAT 147 ano 77, usado mas pago à vista.

Vieram as promoções: chefe de equipe, instrutor de comissários, fui estudando, lendo sobre aviação, manuais de avião em pernoite e aí por diante.

Foi estudando tanto e lendo tanto, que descobri algo que realmente nem imaginava:

Gostava de dar instrução aos comissários mais novos.

Ensiná-los o padrão, enfim, passar o que havia aprendido ao longo dos anos.

Em 1998 resolvi fundar o CEAB, uma escola que me deu e dá muito orgulho do nível de formação dos comissários que formamos.

Com o crescimento da escola e muita dedicação tive de decidir em continuar voando ou assumir o CEAB definitivamente, já que era o meu novo projeto e desejo de formar profissionais para a aviação civil.

Nesta decisão, mais uma vez, consultei minha parceira, melhor amiga, minha esposa e ela me disse:

“Se é o que tu quer e acredita, vai em frente”

Mais uma vez me joguei neste projeto e com muito trabalho e persistência o CEAB hoje é uma grande escola, e me orgulho muito de todo nosso trabalho de formação de nossos alunos para o mercado de aviação civil.

Somente para encerrar, minha esposa começou à voar na Rio SUL em 1992 e minha filha mais velha entrou em 2001 para a companhia dela, que está até hoje.

Meu filho do meio faz curso de piloto privado, e minha caçula, que hoje tem 21 anos, diz que vai fazer nutrição, mas acho que vai para aviação também! rsrsrsrs.

Acredito muito no poder de mudança que a carreira na aviação pode fazer na vida dos jovens, e sei que indicar a aviação é uma responsabilidade grande.

Desejo aos meus filhos sucesso no mercado da aviação, porque se fosse ruim jamais indicaria aos meus filhos!

Era isto , queria somente contar um pouco dos desafios que enfrentei para chegar onde cheguei!

Agradeço a minha esposa (SHOW), meus filhos e as pessoas que acreditaram em meus sonhos!

Neste mês o CEAB completa 18 anos de formação de novos profissionais da aviação e, se você quer fazer parte desta história, acesse nossos cursos.

Sucesso!
Salmeron Cardoso
Diretor CEAB

 

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