A falsa facilidade de entrar na aviação
Por Salmeron Cardoso
Nos bastidores das companhias aéreas, cresce um fenômeno preocupante: profissionais sem preparo técnico, emocional ou comportamental estão assumindo posições cruciais a bordo.
Chegam com certificados, poses ensaiadas e frases prontas para redes sociais — mas faltam consistência, atitude e profissionalismo real.
E aqui vai a verdade que poucos querem dizer: o mercado não remunera aparência. Ele recompensa entrega.
Perfil fraco, valorização impossível
Sim, o salário de um comissário pode variar bastante. Mas, na maioria dos casos, essa variação não depende da companhia — depende do profissional.
- Quem não domina procedimentos,
- Quem se comunica mal,
- Quem não transmite segurança,
- Simplesmente não é valorizado. E não cresce.
O mercado percebe rapidamente quem veste o uniforme apenas por estética — e quem veste com preparo, presença e responsabilidade.
Promessas fáceis, consequências caras
Muitos candidatos ainda acreditam em fórmulas mágicas. Querem atalhos, certificações rápidas, elogios vazios.
E o que se vê são profissionais despreparados sendo lançados no mercado sem o mínimo necessário para atuar com excelência.
As consequências são visíveis:
- Baixo desempenho a bordo
- Desgaste nas equipes
- Rotatividade elevada
- E, claro, salários cada vez mais achatados
Se o nível de entrega é baixo, o reconhecimento será proporcional.
Estética importa, mas com conteúdo
Estética é parte da aviação — mas não se resume a selfies na porta da aeronave com filtro.
Estética, aqui, significa apresentação profissional, alinhamento com a imagem da companhia e postura diante dos clientes.
Postura é presença, não ensaio.
Educação é comportamento, não frase decorada.
Estética é cuidado pessoal, não performance digital.
Nada contra quem produz conteúdo nas redes. Mas ser comissário vai muito além da legenda bonita.
É domínio técnico. É reação sob pressão. É liderança em silêncio.
Planejamento de carreira: a peça ignorada
Falar em planejamento de carreira ainda parece um luxo para muitos.
Alguns sequer sabem o que isso significa.
Entram na aviação sem metas, sem autoconhecimento, sem visão de longo prazo.
Investem tempo em fotos e likes — mas não em leitura, treinamento e evolução.
E o resultado é sempre o mesmo: frustração, estagnação e salário baixo.
Lembra dos papos de galley?
Lembra daquele colega que reclama de tudo?
Que diz que a empresa é péssima, mas nunca tem coragem de pedir demissão?
Que nos voos curtos está sempre mal-humorado, trata mal os colegas e os passageiros — e nos voos longos faz exatamente igual?
Esse tipo de profissional não inspira, não melhora e não cresce.
É o reflexo direto da falta de planejamento, autocrítica e propósito.
Sem visão de futuro, nem o melhor uniforme sustenta a carreira.
RHs sérios salvam reputações
Apesar do cenário desafiador, muitas empresas têm conseguido preservar a qualidade operacional graças a RHs bem preparados, com critérios técnicos claros e alinhamento cultural.
RH que seleciona por fit real, por conduta, por preparo — muda o jogo.
E o reflexo disso é direto:
- Redução de erros
- Clima de bordo mais leve
- Equipes mais maduras
- E valorização da função
São esses RHs que ainda garantem tripulações comprometidas em voos curtos, enquanto outros, infelizmente, nem aparecem no corredor.
RH bem estruturado não só filtra candidatos. Ele protege a reputação da companhia.
Se você quer salário alto, entregue valor real.
Se você quer crescer na aviação, invista em preparo — não em pose.
Se você quer voar longe, abandone os atalhos e encare sua profissão com seriedade.
A aviação continua sendo uma das carreiras mais admiradas do mundo.
Mas só para quem tem postura, preparo e propósito.
“Certificados podem ser comprados. Perfil, não.”
— Salmeron Cardoso

Sobre o autor
Salmeron Cardoso:
- Especialista em formação de comissários de bordo com 36 anos de experiência na aviação civil
- CEO do CEAB – Centro Educacional da Aviação do Brasil
- Graduado em Marketing
- MBA em Gestão de Aviação Civil
- MBA em Gestão Comercial
- MBA em Gestão de Franquias
- MBA em Tutoria em Educação a Distância (EaD)
- Pós-graduado em Docência no Ensino Superior
- Certificado em Leaders of Learning – Harvard University
- Curso de Formação de Instrutores em Fatores Humanos com foco em CRM na Aviação
- Autor dos livros Asas da Transformação e Produtividade Explosiva